domingo, 17 de outubro de 2010

Descoberta sobre o tempo



Sinto como se meus dedos estivessem carregados de eletricidade, em busca de me revelar alguma verdade através das palavras, sim. Houve um tempo em que eu escrevia, efetivamente, decorrido um tempo passei a escrever satisfatoriamente, alternando entre estilos, na peculiaridade que toma por ponto de partida a forma, não desprezando o cultivo da parte sensorial e técnica para penetrar no espírito.
Tal qual um musicista que com o zelo de compreender a parte sensorial, seus esforços em decifrar por meio da parte sensorial, sonora, as sensações provocadas em distintos espíritos, possuidores de divergentes estilos musicais.
A arte da escrita, não consiste apenas em argumentações, figurações e impressões mentais que abstraímos, expressamos através dela, é relevante o prazer dos sentidos, no olhar, no compasso da imaginação, no colorido, no atrito dos pensamentos e excitação do ego.
Faz-se poesia, com todo o amontoado de pensamentos, vivências, experiências e sonhos, quem não as compreende não se deve pôr a falar a seu respeito, pois é uma arte que não se pode em absoluto ser compreendida. Para dominá-la seria necessária uma excepcional dedicação e arte, para, da missão daí decorrente, extrair a quintessência, possibilitando a síntese permanente entre os contrastes do que se quer ou não transmitir.
O receio de não ser compreendido, não deve se tornar penoso, pois é possível através de tal troca tornar-se companheiro de idéias ou vir a ser uma simples conversa, sem conversão de opiniões do leitor.
Através da leitura deparo-me com idéias, com as quais não posso simplesmente discordar, porque fazem surgir o apelo da minha voz interior que por vezes muito se inclina a dar-lhe razão. Talvez seja a voz de minha natureza que está em aberta contradição as minhas usuais concepções.
Por ora, vejo que cabe confessar com completa franqueza, que naqueles tempos, em que escrevia efetivamente, tive a vaidosa idéia de abandonar a escrita e prosseguir com outras atividades evitando conhecer a necessidade da luta pela escrita, mas ainda possuía o anseio de dar vida ao espírito e a verdade, mas cheguei a um ponto em que não conseguia avançar, e comecei a duvidar do valor das escolhas daqueles que [in]conscientemente não se entregam aos seus destinos, em busca de um substitutivo brilho efêmero, intelectual e artificial, de uma vida genuína e realmente vivida.
Em resumo, estava em crise. Onde todo esforço intelectual e toda busca se torna duvidosa, desprovida de valores, e me inclinei a admirar aqueles que nos parecem viver com tamanha naturalidade, completos e felizes, mas nada sabemos de suas necessidades e dores. Encontrar-se em um estado de espírito assim, é difícil de suportar.
Pensava então nas maravilhosas possibilidades de fuga e libertação, pensei em sair pelo mundo como viajante, recitar em praças. Até surgir a vontade de envergar um novo destino, de tal modo me dispersei, que sozinha não conseguiria resolver meus problemas, necessitando de auxílio alheio.
Naturalmente, quando estamos em dificuldade e nos desviamos do caminho, é que sentimos a maior repulsa em retornar ao caminho normal e procurar um corretivo.
Eis que eu possuía um amigo, ímpar dentre os demais, o qual sempre me inquiria com tal minúcia que por vezes parecia pedante sobre a minha vida, todavia, eu confiara a ele as minhas preocupações, eu o forçara a dar-me atenção, e em troca respondia suas perguntas, tais respostas faziam-no invadir ineroxavelmente nas minúcias, à medida que minha vida ía sendo analisada.
Deixou de fazer-me apenas uma pergunta:
- Você sabe onde está o erro?
Fez-se o tempo de readquirir o controle sobre mim e sobre minhas forças, com o auxílio de outrem. Tendo eu tomado a liberdade de arriscar novas decisões repentinamente, pelo menos deveria ter notado logo o mal daí decorrente, com o tempo perdi até a consciência da minha omissão, e foi preciso que me lembrassem o erro.
Quanto mais exigirmos de nós próprios, ou a nossa ocupação exigir de nós, tanto mais devemos nos aproximar da renovação do espírito e alma, então inclino-me a meditar sobre toda essa trajetória.
Tornar-se uma fanática, ou deixar um sonho ambicioso apossar de suas faculdades, é inapelável. Só percebemos quando já não encontramos mais o nosso caminho.
Coloquei-me então a caminho, essa primavera de liberdade é não rara uma época de intensa felicidade, sem a precedente ilusão de outrora.
É espantoso o espetáculo de inconsistência das coisas, o desvendar da verdade diante de nossos olhos, é um organismo venerável, que se estrutura no decorrer de inúmeras gerações, encarnações, que se estrutura na florescência, essa que continha em si o germe da indiferença.
Não fora apenas um acaso bem especial, o fato de ambos, essa mulher de sentimentos delicados e esse homem de caráter firme, ilusionário e sensato a um só tempo, devia haver algum traço de união entre ambos, para que o mesmo imã houvesse exercido tão forte atração sobre eles, surgira uma forma de amizade, para ele um intercâmbio de idéias, para ela um novo período no caminho do seu despertar, que era para ela o significado máximo da sua vida.

É que esse era o caminho.

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